quinta-feira, 25 de março de 2010

Meu Personagem da Semana

Nelson Rodrigues

Manchete esportiva - 13 de maio de 1959.


Amigos, Julinho começou a ser o meu personagem da semana a partir do momento em que o vaiaram. Foi, até, se me permitem a expressão, trágico. Insisto: trágico! Quem estava lá viu ou, por outra, ouviu. No instante em que o alto-falante do Maracanã anunciou Julinho em lugar de Garrincha, o estádio entupido foi uma vaia só. Menos eu. Eis a verdade: – eu não apupei, embora preferisse Garrincha. Parecia-me que o escrete sem o “seu” Mané era um mutilado. Na pior das hipóteses, eu achava que o Feola devia ter posto os dois: – Julinho na ponta direita e Garrincha na esquerda. Mas um técnico tem razões que a razão desconhece. Puseram só Julinho e esqueceram o Garrincha. Verificou-se, então, o amargo e ululante desagrado da multidão. Naquele momento, ninguém se lembrou, no Maracanã e fora dele, de quem é Julinho na história do futebol brasileiro. Sim, amigos: – o homem andou pela Itália e quando voltou nós o olhamos, de alto à baixo, como se fosse um gringo qualquer ou pior do que isso, como se fosse um perna de pau. Não há nada mais relapso do que a memória. atrevo-me mesmo a dizer que a memória é uma vigarista, uma emérita falsificadora de fatos e de figuras. Por exemplo: – ninguém se lembrava de que, no mundial da Suíça, contra os húngaros, Julinho fizera um carnaval medonho. De certa feita, driblara toda a defesa contrária para finalizar com uma bomba e que bomba! O arqueiro nem viu por onde a bola entrou. Esse gol foi uma obra-prima e devia estar numa vitrine de turismo, para a admiração pateta dos visitantes. Pois bem: – ao ser anunciada a escalação de Julinho, a nossa memória apresentou-nos a imagem não autêntica, não fidedigna do craque, mas de um quase penetra do escrete.
Ao ouvir o apupo,, eu fui um pouco oracular para mim mesmo. Imaginei o seguinte vaticínio:
- “Julinho vai comer a bola!”
Podia parecer uma piada e, no entanto, era uma grave profecia. Eis a verdade: – para o jogador de caráter uma vaia é um incentivo fabuloso, um afrodisíaco infalível. Imagino que Julinho a de ter entrado em campo crispado da cabeça aos sapatos ou, retifico, às chuteiras. Nunca um craque foi tão só. Era um único contra duzentos mil. Mas homem de brio indomável, Julinho aceitou a luta: – bateu-se contra a multidão que o cercava por todos os lados, disposta a crucificá-lo em outras vaias. Mas se nós tínhamos e esquecido Julinho, Julinho não estava esquecido de si mesmo. Foi Julinho em cada um dos 45 minutos, foi sempre Julinho e só Julinho. Em inúmeras ocasiões o que ele fez com o adversário foi pior que xingar a mãe. E o primeiro gol, ah, o primeiro gol! Ele o marcou contra os ingleses, sim, mas também contra os que o vaiaram. Enfiou a bola de uma maneira, por assim dizer, sádica. Jamais houve um gol tão amorosamente sofrido como este. A partir da abertura da contagem, todo mundo passou a reconhecê-lo, todo mundo admitiu para si mesmo:
- “Este é o Julinho !” E era.
Ele não parou mais. Aquela multidão se arremessara contra ele como um touro enfurecido. Pois bem: – ele agarra o touro a unha e lhe quebra os chifres. Então, aconteceu o milagre. O ex-touro brabo, já manso, tornou-se em outro bicho. Sim, amigos: – do primeiro gol em diante, a multidão transformou-se a “macaca de auditório” de Julinho. Se ele apanhava a bola, os duzentos mil espectadores arreganhavam o riso enorme e já gozavam, por antecipação, o que o Julinho iria fazer. Vejam vocês as ironias da vida e do futebol: – de um momento para outro, o vaiado, o apupado, o quase cuspido, transformava-se num triunfador. E, de fato, Julinho foi grande. Nos pés de Julinho a jogada se enfeitava como um índio de carnaval. De certa feita, como um, dois, três, quatro e quase entra com bola e tudo. Imagino que, neste momento, Lord Nelson há de ter perguntado, lá do alto, para o mais próximo companheiro de eternidade:
- “Quem é esse cara ?” O “cara” era Julinho, sempre Julinho.
Assim é o brasileiro de brio. Dêem-lhe uma boa vaia e ele sai por aí, fazendo milagres, aos borbotões. Amigos, cada jogada de Julinho foi exatamente isso: – um milagre de futebol




PINTURA EM HOMENAGEM A JULINHO
BOTELHO



POR GIOVANNI BRUZZI. FLORENÇA - ITÁLIA - 1981








"La Fondiaria" acquistò il dipinto Julinho di Giovanni Bruzzi e ne fece dono all'A.C.Fiorentina, in occasione della conquista del primo scudetto nel 1956.Sopra, la cartolina commemorativa dell'avvenimento con, sul davanti, la riproduzione dell'opera e, sul retro, le firme degli undici giocatori campioni d'Italia.
TESTA UN PO' A PERA, BAFFI SOTTILI E NASO AQUILINO
UN GRANDE CALCIATORE DELLA FIORENTINA IN UN QUADRO OFFERTO ALLA SOCIETA'. IL PITTORE POTREBBE CONCEDERE IL BIS CON LA SPERANZA DI RIPORTARE LO SCUDETTOSULLE MAGLIE VIOLA.
Il campionato di calcio 1955-56 non era iniziato da molto quando alcuni sportivi della Fondiaria telefonarono all'allora ventenne pittore Giovanni Bruzzi. Che ne direste, gli dissero più o meno, di dipingere un quadro rappresentativo della squadra da regalare alla Fiorentina nel caso vincessimo il campionato? Bruzzi accettò con entusiasmo. Quell'anno i viola andavano forte, anzi fortissimo: non avevano perso una sola partita e non la persero per trentatrè giornate di seguito. Persero solo - ironia della sorte - l'ultimo incontro fuori casa con il Genoa, dopo aver superato per quattro a zero la Lazio allo stadio comunale. Fu proprio durante Fiorentina-Lazio, in tribuna d'onore, che gli sportivi della Fondiaria e Giovanni Bruzzi consegnarono all'allora presidente dell'AC Fiorentina, Enrico Befani, il quadro che ancora oggi si può vedere, sistemato in una cornice viola, nella sede dell'associazione del viale dei Mille. Rappresenta un giocatore solo. Un atleta con la testa a pera, baffetti quasi impercettibili, naso aquilino, divisa dei capelli in mezzo, proiettato in una rovesciata stilizzata. Non indossa la maglia viola della Fiorentina, ma quella verde e gialla del Brasile. E chi l'ha visto giocare capisce subito di chi si tratta: Julio Botelho, in arte Julinho. Sì, perchè quella era la Fiorentina del grande Julinho e molti, dice ancora qualcuno, andavano allo stadio soprattutto per vedere lo spettacolo che puntualmente il fuoriclasse brasilèro offriva al suo pubblico. Il quadro l'hanno visto in molti; recentemente è apparso anche nella pagina sportiva di questo giornale in un fotografia scattata nella sede della Fiorentina in occasione della visita a Firenze di Julinho, che arrivò alla fine di agosto giusto in tempo per dare il calcio d'inizio di Fiorentina-Argentina, strappando più applausi di Maradona. All'inizio pochi apprezzarono il quadro di Bruzzi, forse per la tecnica surreale con la quale era stato dipinto o forse perchè alcuni avrebbero preferito un'immagine di tutta la squadra. Ma Bruzzi aveva pensato subito di immortalare una rovesciata di Julinho. "Era un giocatore fenomenale - ricorda ancora entusiasta il pittore - forse il più grande giocatore che si sia mai visto a Firenze. E siccome era, per così dire, un atleta acrobatico, mi piacque disegnarlo così, sospeso in quella rovesciata sullo sfondo del cielo e delle nuvole, mettendone in risalto alcune caratteristiche fisiche come appunto la testa un po' a pera, la divisa nel mezzo, inusuale per l'epoca, e i piedi un po' convergenti come ben si rendeva conto chi lo vedeva camminare quando non correva sul campo. E' vero il quadro fu accolto da tutti con gioia mista a scetticismo per la tecnica con quale l'avevo dipinto. Ma tutti concordarono nel dire che avevo capito Julinho. Quel giocatore era lui". La Fondiaria fece anche stampare mille cartoline del quadro con dietro le firme dei magnifici undici di Fulvio Bernardini che vinsero il campionato '55-'56 infliggendo al Milan, secondo in classifica, un distacco di ben dodici punti (erano il portiere Sarti, i terzini Magnini e Cervato, i mediani Chiappella, Rosetta e Segato, le mezze ali Gratton e Montuori, il centravanti Virgili e le ali Prini e Julinho). Il quadro di Bruzzi fu appeso in un primo momento nella sala mensa dei giocatori allo stadio, poi fu portato nella sede della Fiorentina. E' il primo dei tre dipinti calcistici dell'artista fiorentino: il secondo rappresenta Zoff in una parata quando era portiere del Napoli, il terzo un non meglio identificato calciatore juventino, anche lui in rovesciata, un colpo che evidentemente al Bruzzi piace molto. E se qualcuno, magari la stessa Fondiaria, chiedesse di nuovo al pittore un quadro propiziatorio per i viola, come venticinque anni fa? "Ah, io lo farei - dice Bruzzi - anche se sarei veramente imbarazzato nello scegliere il soggetto". Già. Chi lo fa oggi Julinho?

quarta-feira, 24 de março de 2010

Julinho é eleito os 10 mais do Palmeiras.


Signore Tristezza* por Roberto Vieira A velha cantina parece ter adormecido nos anos 50. Fotografias espalhadas pelas paredes, toalhas verdes e vermelhas pelas mesas. Algumas pessoas sentadas tomando vinho, comendo uma pasta. Conversando sobre política. Peço o vinho da casa e uma lasanha ao forno. Como bom brasileiro esqueço o antipasti. Heresia. O dono da cantina me olha de soslaio. Como me desculpar? Quem sabe? Estamos em Firenze. Vale à pena. Chamo o dono da cantina e pronuncio: Julinho ! Ele enche os olhos d'água e completa: Boteglio ! Somos irmãos. No instante seguinte, ele me segura pela mão e começa a mostrar os retratos na parede. Julinho e a Fiorentina. A Fiorentina de Julinho. Campeã italiana de 1955/56. Uma equipe mágica saída da Toscana para humilhar a Juve, o Milan, a Napoli. Meus olhos percorrem as fotos amareladas, os recortes de jornal. Volto no tempo. Como se as águas do Arno ousassem retornar ao seu passado nas montanhas. Pelas margens do Arno passeava o grande Julinho. Olhos postos na distância, nos museus. Nas igrejas centenárias repletas de história. Julinho que transformou os estádios da Itália em galerias de arte. Driblando seus marcadores em progressão geométrica. Julinho que, no entanto, não podia esconder os seus olhos de saudade. Queria voltar para São Paulo. Faz frio. O vinho é dividido com o dono da cantina. Fratelli. Dou boa noite e saio pela noite de volta para o hotel. A turma do meu lado não entende nada. Papo esquisito de futebol. Papo de criança. Cultura inútil. Um deles chega a rir com a imagem daquele velho jogador de bigode fino e olhar sério. Para os brasileiros, Julinho Botelho é somente isso: Um bigode. Pra que perder tempo explicando? Vão dizer que estou sob efeito do vinho. Eles jamais compreenderão a tristeza daquele senhor, amado longe de casa, fintando os adversários de outro continente, sonhando com o dia em que seria aplaudido em sua própria casa. Ignorando a imensa vaia reservada a sua escalação no lugar de Garrincha. Vaia de muita gente que imaginava em Julinho apenas um bigode. Não vale perder tempo explicando. Melhor guardar o gosto do vinho da Toscana e a memória das velhas fotos nas paredes. Melhor procurar um palestrino para conversar. Melhor guardar o telefone do Giuseppe, o dono da cantina. Giuseppe entende que a tristeza é um ponta imortal. Como as igrejas e vielas de Firenze...*29 de julho de 2009 - Julinho Botelho completaria 80 anos.







Causos do Futebol - A maior vaia do mundo!


Michel Laurence



O Brasil ainda respirava a glória de ter conquistado pela primeira vez a copa do mundo. Era um belo domingo de maio de 1959, ensolarado, Maracanã lotado. A seleção brasileira ia enfrentar a da Inglaterra, de Billy Right, considerado pelos europeus, até surgir Djalma Santos, o maior lateral direito do mundo. Era uma espécie de comemoração. Os heróis da Suécia eram vistos como semideuses. Pelé, que apenas começava a ser rei, Vavá – o primeiro “peito de aço”, Zito, Belini – O grande capitão, Nílton Santos – a enciclopédia, Gilmar dos Santos Neves – o nome tinha que ser declinado por inteiro, Didi – o príncipe etíope, a elegância em pessoa, eleito o maior jogador da copa de 58, Djalma Santos “o nariz de ferro”, Orlando Peçanha, Zagalo – naqueles tempos com um “ele” só, e claro, Mané Garrincha, o das pernas tortas, o que inventou o caminho mais longo e bonito até o gol. Uns cinco ou seis minutos antes dos times entrarem em campo, o serviço de alto-falantes do Maracanã anunciou a escalação do Brasil: “Gilmar; Djalma Santos, Belini, Orlando e Nílton Santos; Zito e Didi; “Julinho” – a partir daí ninguém mais ouviu a escalaçao do resto do ataque. O povo estava ali para homenagear Garrincha. A vaia ensurdecedora foi a maior que já ouvi em toda a minha vida. Para se ter uma ideia, cinco ou seis minutos depois, quando o time surgiu pela boca do túnel, a vaia continuava. Não se sabe como Julinho teve coragem de entrar em campo. Foi uma rejeição incomparável, insuportável, terrível. “Terrível”, foi essa palavra que o grande Nelson Rodrigues usou em sua crônica na revista “Manchete Esportiva” e que resume bem o que aconteceu: “Parecia-me que o escrete sem o seu Mané era mutilado… a memória é uma vigarista… recebemos Julinho como se ele fosse um gringo (Julinho acabava de voltar da itália), ou pior do que isso - um perna de pau… ao ouvir o apupo vaticinei para mim mesmo – o Julinho vai comer a bola!”. E foi o que aconteceu. O público continuava vaiando quando o jogo começou. Nelson Rodrigues descreve a atuação de Julinho ainda no primeiro tempo, da seguinte maneira: “O que ele fez com o adversário foi pior do que xingar a mãe!”. E realmente foi. Julinho driblou seu marcador centenas de vezes e quando ele partiu da direita driblando um adversário atrás do outro até chegar na cara do goleiro e, mesmo sem ângulo, mandou uma bomba que estufou a rede. Houve um certo silêncio! Dava até para ouvir os jogadores gritando gol, abraçando Julinho o “senhor tristeza”, como era chamado na Itália, onde levantou o título de campeão italiano da temporada 55/56, não sorriu. Foi caminhando até o meio de campo quando começaram os aplausos. O mesmo público que o tinha vaiado impiedosamente o aplaudiu… de pé… durante mais de 10 minutos. Foi nesse jogo que se cunhou a máxima de que “Julinho era capaz de transformar um pedaço de grama do tamanho de um lenço em um verdadeiro… latifúndio”. Passaram 50 anos, mas a figura de Julinho Botelho, com seu bigodinho fino, continua viva na “vigarista” da minha memória. PS – os italianos colocaram o apelido de “signore tristeza” em Julinho devido ao aspecto de seu rosto que, segundo eles, só era desse jeito pela saudade que o grande jogador sentia do Brasil. Autor: Michel Laurence - Categoria(s): Causos do Futebol Tags: ,



JULINHO ESTÁ VIVO!


ALBERTO HELENA JR.


Todo santo dia, um internauta me manda esta mensagem: Julho. Júlio Botelho está vivo!


E está mesmo, na memória de quem neste 29 de julho celebra os 79 anos de seu nascimento. Julinho deixou-nos há cinco anos, mas sua história haverá de ser recontada até o apito do juízo final, a história de um dos maiores jogadores de todos os tempos e quadrantes.


Júlio Botelho está vivíssimo na minha retina naquela tarde chuvosa de 25 de novembro de 1951, num Pacaembu enlameado. Sua figura esguia partindo da direita para o meio, bola colada ao pé, balançando à frente dos adversários e, serpenteando entre eles.


Era um gol atrás de outro, na célebre goleada da Portuguesa de Muca, Nena e Noronha; Djalma Santos, Brandãozinho e Ceci; Julinho, Renato, Nininho, Pinga e Simão, um dos mais vistosos e eficientes esquadrões que vi até hoje.


Foi uma goleada inacreditável sobre o Corinthians, campeão paulista daquele ano: 7 a 3, quatro gols de Julinho, dois de Pinga e um de Nininho Jacaré, contra dois de Carbone e um de Idário, o Sangue Azul. Goleada que quase encerra a nascente carreira de Gilmar dos Santos Neves, o maior goleiro brasileiro de sempre.


Julinho está vivo na conquista do Pan-Americano do Chile, no ano seguinte, redenção do futebol brasileiro, que ainda vertia sangue pela ferida aberta no Maracanazo, em 50. Machucado, não participou da vingança por 4 a 2 contra o mesmo Uruguai de 50. Mas, foi eleito o melhor ponta-direita da comeptição. Feito que repetiria na Copa do Mundo da Suiça, apesar da derrota para a Hungria. Aquele gol de Julinho, do bico da grande área foi inesquecível.


Em 58, já ídolo eterno da Fiorentina, time que Julinho conduziu a um dos raros títulos da sua longa história, declinou do convite de Paulo Machado de Carvalho para jogar pelo Brasil na Suécia. Motivo: achava injusto, ele, jogando no exterior, tomar o lugar de um jogador que atuasse no Brasil. Seu recato, por vias tortas, acabou consagrando as tortas pernas do seu Mané.


Voltou, em 59, desta vez para o Palmeiras da famosa Academia e barrou Garrincha na Seleção, naquele célebre jogo contra a Inglaterra, em que o Maracanã despejou sobre ele, ao entrar em campo, a mais humilhante vaia, que, em poucos minutos de bola rolando, transformou-se num aplauso santificado, por expiar o pecado inicial e por glorificar o futebol quase perfeito de Julinho.


Futebol que se assemelha muito ao de Cristiano Ronaldo, para os jovens que não tiveram a ventura de ver Julinho em campo: alto, para um extrema, veloz, drible fácil em ziguezague, chute forte e bem direcionado, além de precisão no cabeceio. Tanto podia derivar para o meio, quanto ir à linha de fundo, de onde disparava exatos cruzamentos para o centroavante da hora.


Julinho, filho da Penha, tradicional bairro da Zona Leste de São Paulo do qual jamais se desvinculou, começou no Juventus, em 50, transferindo-se em 51 para a Lusa, de onde partiu, em 55, para a Fiorentina.


Lá, até hoje, há um café cuja mesa é perpetuada por uma placa de bronze na parede: “Aqui, sentava-se Júlio Botelho”. Ou, o Sr. Tristeza, como o chamavam os italianos, por seu semblante sempre carregado da saudade do Brasil, da Penha, dos amigos e familiares que deixara.


Não era para menos. A Fiorentina não ganhava um campeonato há séculos, e, na partida decisiva com o Bolonha, perdia por 1 a 0, faltando, sei lá, dez, quinze minutos para o encerramento, quando Julinho, em duas investidas fantasmagóricas, definiu o placar e o título. Foi carregado nos ombros pelos torcedores violas de Bolonha a Florença.


Teve 31 participações com a camisa da Seleção, 21 vitórias e dez gols marcados.


Por tudo isso, Julinho, sim, meu amigo, está vivo. Eternamente.

Autor: Alberto Helena jr. - Categoria(s): Sem categoria

Ética de Julinho Por : Bruno Hoffmann



Ética de Julinho colocou Mané na seleção
{agosto de 2009}



Julinho, com a camisa do Palmeiras.
Depois de surgir no Juventus, estourar na Portuguesa e ser titular da Copa de 1954, o ponta-direita Julinho Botelho foi contratado pela Fiorentina, da Itália, em 1955. Tornou-se herói no ano seguinte, ao conquistar o primeiro scudetto do time italiano. O paulistano era tratado quase como um rei em Florença.A Copa do Mundo de 1958 se aproximava, e havia uma praxe na seleção: não convocar jogadores que atuavam no exterior. Mas abririam uma exceção, afinal tratava-se do endiabrado e talentoso Julinho. O presidente da CBD, João Havelange, mandou um telegrama ao jogador. A delegação passaria pela Itália, buscaria-o e seguiria para a Suécia. Mas não contava com a resposta: “Nada me emociona mais que jogar pelo meu país. Mas não acho justo tirar o lugar de um atleta que atue no Brasil”.O jeito era arranjar outro ponta-direita. Joel, reserva imediato, se tornaria titular. E, para a reserva do reserva, foi convocado um botafoguense de nome esquisito: Mané Garrincha.Coincidentemente, um dos jogos preparatórios para a Copa foi contra a Fiorentina. Durante o hino nacional, Julinho chorou copiosamente e quase desmaiou de emoção. Pouco produziu na partida. Achava inconcebível fazer um gol contra o Brasil. Já Garrincha infernizou os “joões” italianos. Fez um gol antológico após driblar cinco adversários e entrar com bola e tudo. Eram os primeiros passos do anjo das pernas tortas na seleção canarinho.


Bruno Hoffmann